Directed by Rouben Mamoulian
Writing credits: Robert Louis Stevenson (novel),
Samuel Hoffenstein (adaptation) and Percy Heath (adaptation)
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Nota: 10
Drama/Suspense/Terror existencialista
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EXPRESSIONISMO ALEMÃO, MADE IN USA?
Ai... é a maravilha da tecnologia.
Lançaram um dvd que contem duas versões de “O médico e o monstro”.
Uma de 1931 (motivo deste texto) e a outra de 1941 (deVictor Fleming , com Spencer Tracy, Ingrid Bergman, etc).
Gente, vocês tem que ver isso. Como uma história pode render filmes tão diferentes?
O primeiro é obra de arte. O segundo é mediocridade.
Fica fácil perceber a importância do roteirista e do diretor.
Veja bem, são os mesmos acontecimentos, o que muda é a maneira de abordá-los.
É a escolha dos elementos da linguagem cinematográfica.
Ou seja, a história pode ser contada pelo nosso vizinho ou por um grande poeta.
Hoje, irei escrever sobre a versão maravilhosa de Rouben Mamoulian.
O ator principal, Fredric March, ganhou um Oscar por este filme.
Atuação estupenda!
Da pose elegante, sóbria, e delicada do Dr. Henry Jekyll, passa para os movimentos simiescos e super atléticos do Mr. Hyde.
Vai de um extremo a outro com naturalidade.
Um caso raro em que o ator interpreta o mocinho e o vilão.
E a gente até torce por ele.
Destaque também para Miriam Hopkins interpretando Ivy Pierson, que dá um show a altura de March.
Aqui, temos um dos primeiros filmes sonoros.
Inovador em vários aspectos. Um petisco.
A narrativa é dessas histórias em que a maldade é horripilante total e a bondade é um pó de pirlimpimpim.
O contraste.
Jekyll é bonito, médico e atende por caridade, é rico e não precisa ganhar dinheiro.
Hyde é horroroso, violento, assassino, desrespeita a vida.
São impagáveis as sequências com Hyde e Ivy.
Como ele a usa, desrespeita, humilha.
Revoltante.
O assassinato de Ivy, então, é incrível.
A sequência final é o clímax. Ótima cena de ação.
Não tem explosão ou cores ou recursos eloqüentes.
É realista e se apóia na atuação esplêndida dos atores.
Neste conto, a ciência cria o malígno.
Assim como em “Frankenstein” de Mary Shelley, o cientista é quem produz o monstro.
Opondo-se a livros como “Drácula” de Bram Stoker, onde a ciência é cura contra o poder maléfico.
Inversão interessante que retrata uma mudança de pensamento da época.
A ideologia do médico é inocente, ilusória.
Acredita que o ser humano tem duas metades: uma racional e bondosa, outra instintiva, e cruel.
Deseja separar essas partes “ser puro, não só na conduta, mas também em pensamentos e desejos”.
Diferente da hipocrisia dos que não admitem a existência do eu indecente, escondendo cinicamente.
Intenção admirável que não esperava que o lado maligno subjugasse o bom.
Dá pra notar claramente a influência do expressionismo alemão neste filme.
Cenários de perspectiva torta (nas ruas, principalmente), iluminação (cenas com sombras nas paredes – ex: seqüência de perseguição) e até a própria temática existencialista abordada.
Os EUA sempre importou idéias e profissionais bons.
Alfred Hitchcock foi pra lá, Sjöström, e muitos outros.
Podemos dizer que existem filmes expressionistas americanos, “O médico e o monstro”, “The Wind” (de Victor Sjöström), etc.
Nesta película, são usadas câmeras subjetivas para vivenciarmos o mundo pelos olhos da personagem principal.
As reações simpáticas das pessoas para com Jekyll e as reações de repulsa e medo com Hyde.
Vemos também como os dois se enxergam, nas cenas de espelho.
O espelho e as câmeras subjetivas são fundamentais para a criação de uma relação, personagem/espectador.
Afinal de contas, Jekyll e Hyde, somos nós!
O filme reproduz esta visão, em primeira pessoa.
Quando olhamos o espelho, o nosso reflexo é ele... ou o outro.
Aliás, é no espelho que vemos o cientista pela primeira vez.
O seu/nosso reflexo.
Destaque especial para a sequência de abertura em que Jekyll sai do órgão, atravessa a casa, entra em carruagem, passa por ruas, até chegar no auditório.
Plano sequência admirável.
Tudo em primeira pessoa.
É tão natural que parece não ter cortes quando na verdade têm vários.
Muitas transições de cena são feitas com cortes em cortina.
Nada fortuito.
As cortinas servem, aqui, para dividir a tela em metades que se complementam.
A divisão responde ou continua a outra.
A utilização de fusões não serve só de transição, têm significado.
As mais importantes são:
- A sequência da primeira transformação onde temos a imagem do laboratório rodando fundida com flashbacks que conclamam a consciência da cobaia.
- A outra, quando conhece Ivy, vemos a prostituta repetindo, como um feitiço: come back soon.
- A imagem é a de sua perna desnuda balançando, fundida com Jekyll e Lanyon andando na rua. Eles discutem enquanto a perna sacode como um pêndulo. Dividindo e alternando dois posicionamentos ideológicos.
Outro momento marcante é primeira saída de Hyde à rua.
Está chovendo.
Ele bebe a chuva.
Esta cena serviu de referência para a clássica sequência de dança com Gene Kelly em “Cantando na chuva”.
Assustei quando vi e reconheci.
Resumindo melhor:
Este filme surpreende do inicio ao fim e por todos os lados.
É como se sentíssemos o sabor dos alimentos com a língua e também com as bochechas!
Nosssaaaaa Dr. Jekyll! Isso que é tirar do baú ahauhauh! Adorei! Bjs
ResponderExcluirOi!
ResponderExcluirMuito bacana! É super legal ler análises de filmes por uma profissional da área. São coment´rios realmente relevantes. Ainda com a união da sua linguagem pessoal, bastante extrovertida, fica ainda mais interessante e aumenta a curiosidade sobre o filme analisado.
Parabéns!
Jander - psicólogo